terça-feira, 21 de julho de 2009

O PENSAMENTO TEOLÓGICO DE JOHN WESLEY

Jonh Wesley (1703-1791) e o metodismo

O movimento puritano foi a tentativa de reforma na teologia e prática da Igreja Anglicana, e aconteceu entre os séculos XVI e XVIII. Uma nova reação se dará contra a Igreja Anglicana, e acontecerá no Século XVIII, capitaneada por John Wesley. A partir das idéias de Wesley surgirá a Igreja Metodista, que possuirá ênfases teológicas próprias. Wesley nunca quis fundar uma nova Igreja, ele morreu como anglicano, o surgimento dos metodistas será com os discípulos de Wesley, que levarão as idéias do mestre as últimas consequências. A marca da teologia de Wesley é o "arminianismo de coração". Os puritanos eram marcados por uma teologia extremamente calvinista, Wesley optou pela teologia arminiana. Os arminianos ingleses eram conhecido como "arminianos de mente", pois eram extremamente racionalistas, com Wesley a teologia arminiana encontra-se com a teologia pietista, por isso podemos falar de um "arminianismo do coração".[8]

Uma rápida biografia

Os pais de Wesley eram Samuel e Sussana Wesley, cristão fervorosos da Igreja Anglicana. Na infância Wesley passou por uma situação extremamente difícil, quando sua casa pegou fogo, e ele uma criança de 5 anos ficou preso nas chamas. Ele acabou sendo libertado desta situação difícil, e sua mãe sempre se referia ao filho como um "tição arrancado das chamas". Wesley estudou em Oxford, e portanto teve uma excelente formação teológica. Lá ele se juntará ao seu amigo George Whitefield (1714-1770), os dois se tornarão nos grandes pregadores do Século XVIII na Inglaterra. Os dois mais Charles Welsey, irmão de John, fundarão os "clubes santos", que eram grupos para o estudo bíblico devocional, influência que veio dos "colegia pietatis" dos pietistas alemães. Em razão do seu método rigoroso de oração e estudo bíblico, eram também conhecidos como "metodistas".[9]

Já como pastor anglicano, Wesley empreendeu uma viagem aos EUA, para então atuar lá como ministro religioso. A viagem será extremamente turbulenta, e Wesley se desespera em meio a uma tempestade. No navio havia uma grupo de cristãos morávios, portanto pietistas alemães, que cantavam em meio a tempestade. Wesley ficou impressionado com o grupo, e o líder dos cristãos morávios questionou a conversão de Wesley. Num diário Wesley admitiu que naquele período não tinha realmente confiança absoluta em Jesus. O seu ministério nos EUA, mais especificamente na Geórgia, será um fracasso. De volta a Inglaterra no dia 24/05/1738, John Wesley voltará a se encontrar com pietistas morávios, entrará numa reunião deles na rua de Aldersgate, e lá eles estavam lendo a introdução de Lutero a Epístola de Paulo aos Romanos, quando Wesley teve uma grande experiência espiritual que registrou da seguinte maneira:

“Senti meu coração se aquecer como nunca antes. Senti que confiava de fato em Cristo, e somente nele, para a minha salvação; e tive a certeza de que ele havia assumido meus pecados, sim, até os meus pecados, e me salvado da lei do pecado e da morte”.

Até hoje se discute se foi uma renovação espiritual ou uma conversão que Wesley experimentou, em razão do registro em seu diário sobre a conversa com os morávios no navio, parece que foi uma conversão, porém o assunto ainda é bastante polêmico.[10]

A partir de sua "experiência espiritual", Wesley irá se tornar um pregador itinerante pela Inglaterra. Ele não deixará a Igreja Anglicana, mas será proibido de pregar, em razão de sua pregação entusiasmada. Foram mais vinte mil sermões pregado, muitos kilômetros rodas a cavalo, e ele chegou até a pregar na lápide do pai. Como ele sempre dizia: "o mundo é minha paróquia", ao responde a liderança da Igreja da Inglaterra que não queria que ele pregasse pelas ruas, ficando apenas nos templos. A princípio estará lado a lado com Whitefield, só que seu amigo era um calvinista convicto, e Wesley um arminiano convicto, em razão da polêmica teológica acabaram por seguir caminhos diferentes. A Inglaterra experimentou um avivamento espiritual grandioso que chegou a ter influência também nos Estados Unidos. A influência social que este avivamento trouxe para a Inglaterra foi grandioso, muitas pessoas deixaram o alcoolismo tão comum naquela época, e há quem afirma que este avivamento evitou uma revolução sangrenta na Inglaterra.[11]

A teologia de John Wesley

Wesley tinha uma grande capacidade intelectual, porém nunca escreveu uma teologia sistemática, pois era avesso a este tipo de estudo. Em sua teologia é possível ver um turbilhão de influências: Hooker, Armínio, Zizendorf e até de puritanos como Baxter. Numa época onde a teologia calvinista era extremamente forte, Wesley desenvolveu uma teologia exclusivamente arminiana. Pode-se dizer que sua teologia estava bem próxima do pensamento pietista. Jonathan Edwards fez do glória de Deus o centro de sua teologia, já Wesley tinha como tema central o amor de Deus. Em razão de sua ênfase no amor de Deus, rejeitou totalmente o calvinismo, que considerava uma verdadeira blasfêmia, pois neste sistema teológico é impossível distinguir Deus do diabo, dizia Wesley.[12]

Em termos da autoridade teológica na Igreja, Wesley defendia a supremacia da Bíblia, porém criou um sistema que ficou conhecido como quadrilátero de Wesley. A Bíblia é a maior autoridade, porém também devem ser levadas em conta a razão, a tradição e a experiência. A ênfase na razão ele emprestou do grande teólogo anglicana Hooker, já a ênfase na experiência dos pietistas. Agora é importante destacar que estas autoridades (bíblia, tradição, razão, experiência) não estavam em pé de igualdades, a Bíblia era sempre o fato decisivo. Wesley também destacava que não basta a leitura da Bíblia, pois toda leitura da Bíblia envolve também uma interpretação, seja ela consciente ou inconsciente, e todo teólogo deve estar consciente disso.[13]

Outro ponto importante de sua teologia, e extremamente controvertido, foi a doutrina do perfeccionismo cristão. Com certeza Wesley, ao contrário de Lutero, enfatizou muito mais a regeneração e a santificação do que a justificação, esta característica ele herdou principalmente dos pietistas. Em relação ao batismo infantil, a exemplo dos puritanos, ele não fez nenhuma crítica, mantendo esta prática. Sobre a perfeição cristão ele escreveu um importante tratado em 1767, intitulado de "Explicação clara da perfeição cristã". Ele defendia que a perfeição tem haver com humildade, bondade, paciência, amor a Deus e domínio próprio. Ele enfatiza que "não defendo o termo impecável", porém em alguns momentos ele parece dizer que o cristão pode chegar a perfeição. Esta perfeição era conseguida num ato simples e instantâneo, que era precedido de um esforço progressivo de busca da santidade. De repente, num momento, a pessoa recebia esta espécie de "segunda bênção", Wesley não foi um pentecostal, porém a sua idéia de "santificação" foi um dos embriões da futura teologia pentecostal. Este momento de se atingir a "perfeição" ou da "santificação plena" geralmente se dá na hora da morte, mas Wesley admite que ela podia acontecer 10, 20, 30 ou até 40 anos antes da morte.[14]

Lutero havia destacada a idéia do "simul justus et peccator", que depois de salvo, somos justos e pecadores, e sempre lutaremos com este dilema dentro de nós. O ensino de Wesley parece ser mais otimista, e admitia com certeza para alguns cristãos uma perfeição. Há quem diga que Wesley estaria negando a justificação pela fé ao enfatizar a santificação, porém ele fazia questão de dizer que “Creio na justificação pela fé somente, tanto quanto creio que Deus existe”. Hagglund também destaca que “A justificação apenas pela fé era o ponto central relegado neste ensino a um segundo plano". Outro ponto importante de seu ensino foi sua ênfase no sacerdócio universal dos crentes, porém ele manteve uma eclesiologia episcopal. A "igrejas de santidade" americanas que serão seguidoras das idéias de Wesley rejeitarão esta eclesiologia mais aberta, onde havia liberdade total da congregação. É destas igreja que nasceu na virada do Século XIX para o XX o movimento pentecostal.[15]

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