domingo, 4 de dezembro de 2011

Brilho da igreja primitiva




Se confrontarmos os fatores que ilumi¬navam e davam projeção à igreja primitiva com a mesma classificação de fatores de nossos dias, descobriremos a causa predo-minante do brilho inconfundível da igreja dos primeiros dias do cristianismo.

Na igreja primitiva, os cristãos eram cuidadosamente instruídos acerca do ca-minho, em contraste com o abandono em que vivem os neo-convertidos nas igrejas de nosso tempo.

Naqueles dias, os neófitos aprendiam como dar razão de sua fé; um príncipe ou um nobre não conhecia melhor a doutrina cristã do que o homem do povo ou o maríti¬mo que se convertera numa de suas viagens em um porto qualquer. O conheci¬mento de uns era o conhecimento de todos.

Na igreja primitiva, a admissão como membro era mais difícil do que hoje: o can-didato devia ser realmente convertido e ti¬nha de demonstrar seu desejo de pertencer à igreja, através de uma série de fatos que faziam recuar os medrosos e todos os inca¬pazes de fazerem brilhar a luz de Cristo. A admissão era precedida de exames que exi¬giam renúncia à vida passada: requeriam provas de que a nova vida era vivida no Espírito de Cristo. Enquanto o pretenden¬te não estivesse desligado dos laços que o prendiam ao mundo e seus aliados, quer dizer, ao Diabo e à carne, não estava apto para o Reino: sua luz não honraria a igreja, não podia ser membro do corpo de Cristo.

Na igreja primitiva o batismo nas águas só era concedido àqueles que o mundo considerava "mortos" para si, por terem sido achados por Cristo, e iluminados pela graça; enquanto o candidato ao batismo estivesse "vivo" para os homens, não con¬seguiria descer às águas. O batismo era o testemunho público de renúncia e morte ao pecado e significava o desejo de viver em novidade de vida.

Qualquer que fosse batizado, conhecia o significado desse ato, pois antes de o rea-lizar, passara pela experiência do novo nascimento; estava pronto a abdicar todas as vantagens, por amor a Cristo; estava disposto a brilhar por amor ao Evangelho.

Na igreja primitiva a admissão de obreiros não era obra de homens nem da vontade humana. O escolhido era aponta¬do por Deus. Se alguém se apresentasse à igreja, a fim de ser eleito para algum cargo, certamente seria reprovado, senão houves¬se provas de ter sido chamado pelo Espíri¬to Santo (At 13.1).

Quando olhamos para o passado e de¬paramos com esse clarão inextinguível que foi o testemunho da Igreja de Cristo, senti¬mos desejo de clamar, clamar, clamar até conseguir despertar as igrejas de nossos dias e dizer-lhes que voltem a viver nos passos de Jesus, que voltem a buscar o bri¬lho e o testemunho inconfundível de povo adquirido.

Entre outros motivos que congregavam os cristãos da igreja primitiva, um havia que exercia grande influência na vida da comunidade: eles reuniam-se com o fim de partirem o pão, na celebração da Ceia do Senhor. Era esse um ato de alta reverência e um motivo de amor fraternal que envol¬via a esperança da volta de Cristo. Na ce¬lebração da Ceia, não faltava a exortação mútua, em que era mencionada a vinda de Jesus. A promessa dos anjos, quando Jesus subiu ao Céu, de que Ele voltaria para os seus, era tato recente: era um elo de espe¬rança que unia todos os corações.

Uma igreja cujo alvo tenha uma defini¬ção e um motivo tão elevado como é o pro-pósito de honrar a Deus, é uma igreja cujo brilho os inimigos não conseguem apagar, porque o testemunho da fé não se extingue com calúnias ou perseguições.

A igreja existiu e viveu nos dias distan¬tes do primeiro século, porque a vida social de então reclamava esse organismo vivo, para manifestar sua gratidão a Deus e ao mesmo tempo receber o Pão do Céu; seus membros, como elementos vivos, reque¬riam ambiente fraterno no qual pudessem cultivar a comunhão uns com os outros e participar da mesma revelação divina.

A igreja era o lugar desejado pela alma sequiosa; ali podiam sentir com toda a in-tensidade a proclamação da revelação di¬vina, e dos assuntos concernentes à salva¬ção; ali a alma recebia o conforto e a inspi¬ração das verdades eternas reveladas na Palavra de Deus.

Quem dava relevo e brilho à igreja não era a inteligência ou a cultura dos homens que Deus usava para anunciarem suas ver¬dades; a capacidade intelectual desses ho¬mens era quase nula; suas palavras não ti¬nham o verbo fascinante dos oradores gre¬gos. O fulgor da igreja brotava das verda¬des recebidas de Deus e fielmente anunciadas aos homens, como sendo obra do Céu, e não trabalho humano. A única luz que brilhava na igreja era a luz do Espírito Santo, porque o combustível que ardia era tão-somente a revelação da graça a orien¬tar todas as vontades.

Em nossos dias há maior número de igrejas do que nos dias dos apóstolos; há igrejas maiores, templos mais vistosos e mais amplos. Entretanto, a grande ques¬tão é saber se há, hoje, igrejas com o mes¬mo reflexo da verdade e da revelação de Deus, como havia então.

Já demonstramos qual era o brilho da igreja primitiva; a luz que lhe deu tanto fulgor é a mesma luz prometida à Igreja e aos cristãos de todas as idades. Se as igre¬jas e as comunidades cristãs de nossos dias vibrarem dos mesmos desejos e sentimen¬tos que operavam na igreja e nos corações dos santos de então, é lógico que o mesmo clarão de fé despertará os homens do sécu¬lo vinte a aceitarem a salvação.

Se as igrejas, hoje, orarem com o mes¬mo fervor do Pentecoste, a mesma revela¬ção que atraiu as multidões a ouvirem a mensagem do Evangelho, atrairá também os famintos espirituais que vagueiam sem rumo. .

Se a igreja e os cristãos do tempo pre¬sente aceitam o mesmo nome que distin¬guiu a igreja e os cristãos primitivos, é claro que estão na obrigação de crer nas mes¬mas verdades, observar os mesmos princí¬pios e deixar que a mesma luz as ilumine e lhes dê vida.

O brilho da igreja primitiva pode e deve ser a luz das igrejas atuais.



fonte; Emílio Conde

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